Carl Jung é o pai da psicologia analítica, também conhecida como psicologia junguiana ou complexa. A abordagem analítica é muito importante para a compreensão do inconsciente e da personalidade humana, já que entende o ser humano de forma ampla e profunda, como um ser em constante interação social.
Você ainda não sabe como a psicologia analítica pode mudar sua abordagem de atendimento? Então, continue lendo o nosso artigo! Aqui, respondemos as principais dúvidas sobre a essa teoria.
Como foi a vida e a obra de Carl Jung?
Nascido em Kresswil, Suíça, em 26 de julho de 1875, Carl Gustav Jung formou-se em Medicina em 1900, passando a trabalhar no hospital psiquiátrico Burgholzi, em Zurique. Em 1903, publicou “Psicologia e Patologia dos Fenômenos ditos Ocultos” e posteriormente, mais três trabalhos que tratavam sobre a relação entre complexos afetivos e sintomas das psicoses.
No ano de 1907, conheceu Sigmund Freud e, a partir daí, desenvolveram muitos trabalhos juntos. Porém, em 1912, por conta de divergências teóricas e metodológicas, tiveram atritos e se distanciaram. Após o rompimento, Freud continuou estudando a psicanálise, enquanto Carl Jung criou a psicologia analítica.
Essa mudança foi fundamental para a consolidação das ideias e teoria de Jung. Isso porque, enquanto Freud se dedicada em explicar o inconsciente como algo formado no desenvolvimento infantil, Jung procurava uma explicação para o inconsciente como algo “a priori”, isto é, que carrega uma ancestralidade.
Vale lembrar que Jung também era estudioso da alquimia, mitologia e da história das religiões. Isso foi importante para a construção da sua teoria, que é repleta de simbologias.
Como funciona a abordagem da psicologia analítica?
O analista é um ouvinte e observador, que se atenta a tudo o que o paciente fala. Procurar deixá-lo à vontade, mas fazer pequenas interrupções no seu discurso, de modo a orientá-lo para que ele mantenha o foco e reflita sobre as próprias palavras e pensamentos, é fundamental para desenvolver uma análise satisfatória.
O profissional se coloca como um indivíduo suscetível a compreender os problemas do outro, com a diferença de que ele foi treinado para ajudar as pessoas a enfrentarem isso. Dessa forma, o analista e o paciente mantém uma relação de troca de aprendizado.
Ainda, Jung volta sua energia para trabalhar com o sujeito em sua totalidade, analisando a sua vida em comunidade. Nesse sentido, nenhuma análise junguiana será feita desconsiderando o indivíduo do seu contexto coletivo.
Quais são as ferramentas usadas na psicologia analítica?
Além do discurso verbal, a psicologia utiliza outras ferramentas, como as manifestações artísticas variadas e a amplificação, que possibilita a associação da mitologia aos relatos do paciente.
Outra ferramenta usada é a caixa de areia: uma caixa, contendo areia e diversas miniaturas, é colocada para que o sujeito manuseie e crie a cena que quiser. Nesse cenário, o analisando utiliza a imaginação ativa, que consiste em trabalhar seu potencial imaginativo para integrar conteúdos internos ainda não conscientes.
Para a psicologia analítica, as simbologias são fundamentais, orientando o trabalho do terapeuta. Dessa maneira, uma ferramenta amplamente utilizada é a mandala. Por meio de desenhos, pinturas e modelos, o analisando consegue representar simbolicamente a sua totalidade psíquica, auxiliando o analista a compreender suas dores e angústias.
Quais são principais arquétipos da personalidade?
Carl Jung explica que todas as pessoas possuem uma herança biológica e psicológica, que estruturam o nosso comportamento. Assim, ele afirma que existem traços universais provenientes do inconsciente coletivo, chamados de arquétipos.
Essas estruturas não podem ser observadas em sua totalidade. Isso quer dizer que só podemos vê-las e percebê-las por meio das imagens que ela gera na realidade.
Mas então, por que isso acontece? Os arquétipos nada mais são do que imagens primordiais que foram criadas por meio de repetições progressivas de experiências similares durante diversas gerações. Essas experiências repetitivas ficam guardadas no inconsciente coletivo e moldam a nossa maneira de ser.
Isso acontece em todas as culturas e sociedades. Em outras palavras, os arquétipos de Jung são simbologias que representam padrões de pensamento e de experimentação da realidade que guiam as nossas ações, e é por isso que não são aparentes.
A seguir, você pode conferir os principais arquétipos utilizados na abordagem analítica.
Ego
Para Jung, o ego é muito mais do que simplesmente o “eu” na realidade. É o arquétipo que alinha lembranças, sentimentos e ideias que orientam nossos comportamentos, tornando cada humano um ser consciente.
Então, ele emerge do inconsciente e, juntamente com ele, forma o centro da consciência. O ego faz com que o indivíduo planeje as ações antecipadamente e o protege do que ameaça a sua consciência.
Persona
Todos nós desempenhamos papéis sociais. Nos mais variados contextos, nos comportamos, vestimos e falamos de forma diferente. Atuamos em todas as situações sociais e carregamos máscaras para facilitar a adaptação às diferentes situações.
É isso que representa a persona, as máscaras, as características que nós desenvolvemos em diferentes ambientes. Então, esse arquétipo simboliza a forma como o indivíduo se apresenta para o mundo: suas vestimentas, comportamentos e vocabulário.
Sombra
A sombra é o centro do inconsciente pessoal. É tudo o que a consciência reprime, como os desejos que são considerados incompatíveis com a persona do indivíduo e com os padrões sociais.
Assim, ela é um dos arquétipos mais poderosos, sobretudo no contexto de atendimento clínico, já que ela representa tudo aquilo de bom e de ruim em cada sujeito.
Anima ou Animus
Representa a estrutura inconsciente do sexo oposto presente em cada indivíduo. Para o homem é anima e, para a mulher, animus. Em outras palavras, anima representa a face feminina no masculino, da mesma forma que animus corresponde ao lado masculino do feminino, sendo que as maiores influências desse arquétipo são os pais.
Self
O self é o centro do ser, tudo o que diz respeito ao inconsciente e consciente — que se completam. Significa a totalidade do ser e a reconciliação de polaridades, representando a ordem e a unificação, atraindo os outros arquétipos a fim de firmá-los no indivíduo. O desenvolvimento do self é consequência de um longo processo de compreensão de si mesmo.
Inconsciente pessoal
Na abordagem analítica, o inconsciente não é algo rígido, construído durante a infância. Ele é dinâmico, repleto de movimento, produzindo constantemente conteúdos diferentes que podem reagrupar arquétipos já existentes, trabalhando de forma compensatória e complementar com a esfera consciente.
Assim, o inconsciente pessoal nada mais é do que a camada superficial dos conteúdos reprimidos. Nesse campo, a fronteira entre ele e a consciência não é nítida, fazendo com que muitas vezes emerjam conteúdos inconscientes durante a fala, comportamento e expressão.
Inconsciente coletivo
Jung, desde o início dos seus trabalhos, explicou que o sujeito deve ser visto na sua totalidade, isto é, como parte de uma comunidade, dentro de um contexto histórico, político e cultural, sem ser dissociado das circunstâncias que habitam sua vida.
É, então, por meio desses marcadores sociais que o inconsciente coletivo toma forma, constituindo-se como a camada mais profunda da psique humana, que adquire esses conteúdos vivenciados pela humanidade e se reflete nas ações de cada ser.
Como ocorre a terapia analítica?
A abordagem analítica apresenta diversas diferenciações quanto à metodologia e teoria de apoio em relação às outras. Durante o processo psicoterapêutico, a linha primordial de um psicólogo junguiano é trabalhar com a reflexão, isto é, fazer com que o analisando reflita sobre todas as questões que ele traz ao setting.
Assim, o papel do terapeuta é analisar o seu histórico de vida, acompanhar o seu desenvolvimento clínico, compreender os conflitos internos do analisando e buscar a resolução desses problemas que estão dificultando a transformação do self.
Também, existem diversas ferramentas que são utilizadas na clínica, como já comentamos. Elas auxiliam o trabalho do analista e potencializam as formas de intervenção a fim de estimular a reflexão profunda do paciente.
A abordagem analítica de Carl Jung influenciou toda a cultura ocidental. Após a sua morte, muitos estudiosos ampliaram a teoria, os chamados pós-junguianos. A psicologia analítica transforma a prática do psicanalista, independentemente da abordagem que ele possui e, por isso, é uma das teorias mais importantes que analisam o desenvolvimento humano.
E então, gostou do nosso artigo? Ficou com alguma dúvida em relação à abordagem analítica? Comente aqui embaixo!