Entre os vários conceitos criados por Freud, um dos mais importantes é o Complexo de Édipo, considerado como a pedra angular da psicanálise, e que ocorre na fase fálica do desenvolvimento infantil. Para a psicanálise, a resolução do conflito edipiano é fundamental para que a criança tenha um amadurecimento saudável.
Por desenvolver questões como sexualidade e infância, por vezes existe uma interpretação errônea sobre o que é o Complexo de Édipo. Quer saber melhor como ocorre esse processo e como você pode ajudar o seu filho a superar a questão? Continue a leitura deste artigo!
Quais são as origens do Complexo de Édipo?
Freud, se valendo de estudos sobre povos primitivos, discorre no seu livro “Totem e tabu” sobre a origem do Complexo de Édipo e como ele se relaciona com o nascimento da religião e da moralidade.
Primeiramente, ele considera a proibição do incesto, que existem em todas as tribos estudadas, e associa essa proibição ao conceito de totem. Totem seria um animal, fenômeno da natureza ou vegetal que teria uma relação de identificação com o clã. Assim, eles se diferenciavam dos membros de outros clãs, com os quais poderiam manter relações sexuais.
Freud reúne também os conceitos de horda primeira e refeição totêmica para defender a tese de que, em um primeiro momento, houve um macho mais velho e mais forte, detentor das fêmeas, que expulsou todos os outros machos do clã.
Esses machos se unem e voltam ao clã para matar essa figura paterna, o totem, que seria alvo de admiração e ódio. Ao matarem esse pai, são tomados pela culpa e decidem abrir mão da reivindicação feita pelas mulheres e anular seu ato, proibindo a morte do totem.
Com isso, o totemismo garantia as restrições morais da tribo. Essa proibição levava ao tabu, que carrega consigo sentimentos ambivalentes: o desejo pela coisa proibida e o medo de fazê-la.
Esse sentimento ambivalente se expressaria na infância quando o filho deseja o amor da mãe e vê o pai como um rival. Ele o ama por admirá-lo e identificar-se com ele, mas o odeia por roubar o amor de sua mãe.
Quem é Édipo?
Para compreendermos o que é o complexo de Édipo, precisamos conhecer essa narrativa que representa com precisão a teoria psicanalítica. Édipo foi personagem de uma tragédia grega escrita no ano 429 a.C por Sófocles, que teve o infortúnio de matar o próprio pai e casar-se com a mãe sem saber.
A história começa quando o rei Laio consulta o oráculo e descobre que seu filho vai lhe matar e casar-se com sua esposa, a rainha Jocasta. Para evitar que isso aconteça, ele manda um servo se livrar da criança, mas o criado descumpre as ordens, fica com pena e leva o bebê (Édipo) para outra cidade.
Quando fica mais velho, Édipo consulta o oráculo, que conta seu trágico destino. Para escapar da previsão, ele foge, mas acaba encontrando-se com o rei Laio, que o ataca e, em legítima defesa, Édipo o mata. Ao chegar na outra cidade, ele vence a esfinge e se casa com a rainha – que ele não sabe mas é Jocasta, sua mãe.
No final, a verdade é descoberta e a tragédia tem seu fim – que é obviamente, trágico. É fácil perceber a ligação entre essa história e o conceito de Freud, como você verá a seguir.
Como essa história está relacionada ao complexo?
Para Freud, durante o desenvolvimento psicossexual, existem 5 fases, entre elas, o estágio fálico. Durante esse estágio, o menino começa a sentir desejo pela mãe e a ter ciúmes do pai. Também pode ocorrer de a menina começar a desejar o pai e ter ciúmes da mãe.
Nesse caso, o complexo é conhecido como Complexo de Édipo feminino. Jung, outro psicanalista muito importante, denominou a “versão feminina” como Complexo de Electra, mas Freud não concordava com essa nomenclatura.
É importante ressaltar que, para uma criança, os desejos e os impulsos de prazer são interpretados de forma diferente, pois ela ainda não tem o mesmo conhecimento do mundo de um jovem ou de um adulto, mas, ainda assim, os sente.
Quando começa a notar que seu comportamento é inadequado, ela acaba sentindo culpa e até medo por conta dos seus sentimentos, e assim é feita a “castração”.
Quais são as consequências do Complexo de Édipo?
Nos meninos, essa culpa leva ao medo inconsciente de perder o pênis e, nas meninas, haveria a inveja do pênis. Segundo Freud, quando não ocorre uma boa resolução do Complexo de Édipo, podem surgir perturbações psíquicas, incluindo psicose e perversão.
Além disso, as crianças podem acabar tendo uma fixação pela mãe ou pelo pai e começam a procurar um parceiro semelhante a eles. Já quando o complexo é bem resolvido, o desenvolvimento psíquico ocorre e elas começam a se identificar com o genitor do mesmo sexo.
Como a criança percebe que não pode tê-los, ela se compromete a ser como eles, construindo o supereu. Vale lembrar que, apesar de serem usados termos como “pai” e “mãe”, o complexo pode acontecer com quem cuida da criança, e não apenas com quem a gerou.
Como apoiar a criança durante esse período?
Depois de tudo o que foi exposto, você deve estar aí se perguntando “mas como eu posso ajudar meu filho a passar por esse momento?”. A resposta não é simples, e não existe receita pronta. Muitos são os casos em que o filho quer dormir na cama dos pais todas as noites. Ensiná-los a dormir no seu próprio quarto pode ser uma tarefa hercúlea, já que vem acompanhada de choro, birras e cansaço.
A criança deseja o amor total da mãe, mas esta também tem uma relação com o pai da criança, e é bom que isso fique delimitado. É impossível que o filho a tenha somente para si, e essa separação é importante para o amadurecimento da criança. É como se esse momento fosse o primeiro grande “não” que a criança receberá e só a partir de uma boa resolução do complexo é possível estabelecer relações sociais adequadas.
O psicanalista pode ter uma função privilegiada nesse momento, pois é uma pessoa capaz de mediar esse sentimento ambivalente. Por meio do brincar, a criança pode colocar para fora os desejos inconscientes e elaborar, por meio de vias simbólicas, tudo o que está passando.
Certamente esse é um momento crítico do desenvolvimento infantil que merece atenção dos pais. Algumas pessoas acabam sentindo certa estranheza ao procurar saber o que é o Complexo de Édipo, por ele associar o prazer sexual à infância e aos pais, mas quando compreendemos verdadeiramente do que se trata, é possível interpretar melhor o conceito.
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